sexta-feira, junho 03, 2011

MEMÓRIAS VELADAS


PAIRA DESOLADO UM VÉU

Paira desolado um véu de nuvens,
ao declinar da chama que morre pelas tardes.

Acendem-se devagar os ecos do passado,
o lume cortante do hábil sílex transitório,
desde os nossos tetravós da terra rigorosa.

O coar do dia acresce um dízimo fio de água
vindo do mais remoto das profundezas,
para mitigar a nossa sede,
as nossas quotidianas esperanças
noutros esplendores azuis de céus e estrelas.

Mas é tarde para a repetida veleidade
dos vencidos.

Para que são estas quotidianas memórias
senão para acender outras distantes estrelas
e entender o efémero do presente?

Para que é o esplendor de céus azuis
senão para prolongar a eternidade
da luz, escorrendo sobre nós?

E ao declinar da tarde, despimo-nos da fé.

Já não é possível olhar o céu de ontem.

Os nossos filhos também aprendem devagar
com a última passagem dum corpo
sobre a terra.

Poema de VIEIRA CALADO
no livro POR DETRÁS DAS PALAVRAS




15 comentários:

Canto da Boca disse...

O Calado é um mestre das palavras, não? Transforma-as em emoção.

Beijo, querida!

sérgio figueiredo disse...

bem...

ler Vieira Calado é ler uma palavra sem perder o rasto da que ficou para trás e não tentar adivinhar a que vem a seguir.

só o Vieira Calado para...

"Já não é possível olhar o céu de ontem.".

é bonito da tua parte e se escolheste estas palavras, mesmo sendo de Vieira Calado, elas são tuas, também. alguma coisa te dizem e nelas te revês.

bjnho

Vanuza Pantaleão disse...

"...já não é posível olhar o céu de ontem..."

Esse moço, Vieira Calado, estraçalha mesmo na Poesia, pode crer.
Baby, querida, obrigada por sua adorável presença em nosso espaço e um final de semana maravilhoso!
Beijos

Valquíria Calado disse...

Os olhos de ontem vendo o hoje de sempre. Belo.

Abraço baby.

Álvaro Lins disse...

Bonito; é poesia!
Bjo

ErikaH Azzevedo disse...

O efemero e o eterno podem conviver conjuntamente, há momentos que mesmo breves carregam toda a eternidade com ele, na força do que sentimos qdo eles acontecem.

Lindo poema, escolha belissima a tua querida.

Bjo grande para a menina.

Erikah

Manuel Luis disse...

O céu é diferente todos os dias e mesmo assim prolonga a eternidade da luz, mesmo em pensamento nunca consegui chegar ao fim do céu mas todos os dias tento.
Devagarinho, um abraço

vieira calado disse...

Olá, como tem passado?

Obrigado por postar esse meu poema.

Sei que a amiga tem a edição portuguesa.

A brasileira, é igual.

Portanto... tudo bem!


Bjsss

`Já foi à praia?

São disse...

"Ai dos vencidos!" é uma frase que alguém disse há muito tempo, mas que me parece continuar actual.

Uma semana feliz.

Nilson Barcelli disse...

Fizeste uma excelente escolha, porque a poesia do Vieira Calado é sempre boa.
Beijos, querida amiga.

mixtu disse...

o céu de ontem...
não se vê...
porque o de hoje é mais bonito e actual...

abrazo serrano

Secreta disse...

Vamos olhar o céu de hoje...
Beijito.

Anónimo disse...

Há sempre um céu que se revela ao correr de uma nuvem.

Boa escolha!

Ana disse...

Gosto da poesia de Vieira Calado e há muito tempo a não lia !
Obrigada, Baby! Um beijinho *

C Valente disse...

Já não é possível olhar o céu de ontem,
Tanta verdade contida
Saudações amigas

Rosas

Rosas
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